sábado, 10 de maio de 2008

Perto de Deus

Por ser exato e encantado, meu amor por você não coube em si ( trecho da música Pétala - Djavan)

Tínhamos 20 anos. Era aniversário de morte de um ano da Elis Regina. Eu estava com um vestido indiano comprado na loja dos Hare Khrisna da Rua dos Ingleses, bolsa de couro, cabelo molhado, mais nada. Estava linda! Até porque aos 20 anos não precisava mais que aquilo. Lembro-me de estar triste por um motivo que não quero registrar aqui.

Bem... fui descendo a Rua Vergueiro em direção ao Centro Cultural para assistir a um dos shows em homenagem a Pimentinha. A fila estava imensa, grande mesmo. Eu estava quase desistindo, quando vi você pela primeira vez. Foi uma visão, você estava de calça branca de saco de farinha, e uma bata indiana branca, lindo, magníficamente atraente. Nos olhamos e você me disse: - Oi, tudo bem, veio pro show...etc...

Naquele momento eu descobri que nosso amor seria para sempre. Atravessamos a rua e fomos tomar cerveja num boteco em frente ao Centro. Falamos, descobrimos amigos em comum, atividades em comum, pensamentos, atos, nos casamos naquele momento mágico.
Nada de show homenageando Elis, fomos para uma festa na USP, foi uma loucura, mil pessoas na mesma sintonia, muita bebida, muita droga rolando, mas na paz. Tudo o que nos usamos aquele dia foi nossa própria química, nossos hormônios, esses foram nossos entorpecentes. Depois de muito dançar, fomos embora pra um hotel, porque tudo o que queríamos era ficar juntos.

O hotel era na rua da Consolção, nossa casa, nosso amor em plena atividade.
Acordamos no dia seguinte e não conseguíamos nos separar. Fomos para a casa de seu irmão, Marinho, na Vila Madalena. Isso já era domingo a tarde e nada da gente se separar. Chegou a noite e fatalmente alguém ligou no Fantástico...adivinha? era o lançamento do clip da música Pétala, do Djavan. Pronto! virou nosso hino de amor... você deitou no meu colo e ficamos fixados na tela vendo e ouvindo Djavan.

Mais uma noite juntos, com a mesma roupa, as mesmas caras lindas, eu e você, tínhamos um brilho que as pessoas na rua nos olhavam de forma diferente. Formávamos um casal esplendoroso, duas pessoas exatamente nascidas uma para a outra e belas...foi assim que eu te conheci, Kinha e nossa aventura de anos começava ali.

Foram muitos encontros e desencontros, porque você já era casado e eu quase enlouqueci quando soube daquilo...Briguei, chorei, mas não te larguei, nunca, e nem você me deixou. Mesmo assim tivemos os melhores momentos que pudemos ter. Passado um tempo, eu casei, você descasou; eu descasei, você se casou novamente, passamos anos nos falando ao telefone quase que diariamente, nos encontrávamos, ficávamos juntos.

Eram áureos tempos de Bixiga e a Vila Madalena se resumia na rua Wisard e Morato Coelho, os bares eram o Sujinho e o Empanadas, reduto dos maluquetes da época. Nós sabíamos que envelheceríamos juntos porque nos amávamos de verdade, tanto que nosso destino já estava guardado, mesmo com tantos desencontros...

Os anos foram mais ainda. Eu já tinha um filho do primeiro casamento e você tabém, só que do seu segundo casamento. Lembra que te emprestei meu carro pra você ir ao enterro de seu irmão, Marinho? Naquela época nos dois éramos casados com outras pessoas, mas um amava o outro, cada vez mais....

Os anos insistiram em passar mais e eu fui morar em Salvador. Mesmo assim nunca deixamos de nós falar. Até que um dia suas ligações pararam... eu não entedi, não conseguia mais falar com você no antigo telefone. Nessa época eu estava casada em Salvador e você casado pela terceira vez com uma psquiatra. Fiquei desorientada, mas acabei achando um telefone antigo de sua irmã, Rosa, aquela que morava no Embú e que fomos visitar algumas vezes. Liguei, Rosa atendeu e quando perguntei por você ela ficou muda...Me disse assim:- Mas você não sabe o que aconteceu com meu irmão? e eu falei: - Não, o que houve... silêncio, lágrimas, muito choro...você já não estava mais aqui nesta esfera.

Quando Rosa me disse que você havia morrido, vítima de um ataque do coração, aos 41 anos, eu morri ali, naquela momento, morri um pouquinho com você. Naquele dia minha vida inteira fez um giro... lembrei de tudo, senti sua presença, chorei muito, e te xinguei muito, porque você não podia ter feito aquilo comigo, você tinha me prometido que envelheceríamos juntos, mas me deixou...

Rosa me disse também que seus pertences estavam a minha disposição, eu era de fato sua viúva, o que eu quisesse pegar eu podia: fotos, livros, roupas, porque segundo ela, você sempre falou sobre nosso estranho amor, e ela sabia e cofirmou o quanto você me amava.

Então era tudo verdade, nos realmente tivemos esse tempo de amor na terra. Kinha, espero que você esteja perto de Deus, quero te dizer que meu amor nunca mudou, sempre será amor, aqui, ai onde você está, no univeros, em outra galáxia, você sempre será amado e a nossa música, Pétala, sempre será nossa música.
Te amo para sempre...até onde o pra sempre alcançar.

4 comentários:

Cacs Blog disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tosatti disse...

Caralho!

Unknown disse...

Que emocionante ter sua parte assim. O amor pode sobreviver em outras esferas. Acredite. Linda história de amor, mesmo que triste. bj saudade
Sandra, agora na Paraíba, lembra?
bjs

Unknown disse...

Nossa,tia... que lindo, triste, mas lindo!!!
Concordo c/ vc que o amor pode ser vivido e sentido em outras galáxias...

te amooo!!!

Bjusss

Líli